COMUNICAÇÃO
Com Unidade Móvel do Nudem, Defensoria fará atuação itinerante para defesa das mulheres em todo o estado
![](https://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2024/03/sanitize_200324-084100-1024x576.jpeg)
O veículo é a primeira aquisição com recursos do Prêmio Princesa Sabeeka e responde aos anseios da sociedade civil indicados nas conferências do orçamento participativo
Em uma manhã marcada por falas contundentes, a Defensoria Pública da Bahia (DPE/BA) celebrou mais uma conquista para enfrentamento à violência de gênero. Agora a instituição passa a dispor de uma unidade móvel para atendimento itinerante pelo Núcleo Especializado na Defesa da Mulher (Nudem). A entrega do equipamento compôs a programação da roda de conversa “E eu não sou uma mulher?”, que aconteceu nesta quarta-feira (20), na Casa da Mulher Brasileira.
O veículo é a primeira aquisição feita com os recursos do Prêmio Global Princesa Sabeeka Bint Ibrahim Al Khalifa e vai possibilitar que os serviços da instituição cheguem ainda mais perto das mulheres da capital e do interior do estado. “Esse é um escritório móvel de defesa das mulheres que vai circular todo o estado com nosso atendimento especializado e formação em direitos. Assim, faremos com que todas as mulheres tenham acesso aos serviços da Defensoria Pública”, comemorou a defensora-geral, Firmiane Venâncio.
A DPE/BA foi a primeira instituição brasileira a receber o Prêmio Princesa Sabeeka, que é promovido pela ONU Mulheres em parceria com o Conselho Supremo para Mulheres do Reino do Bahrein. Além do reconhecimento internacional pelo trabalho desenvolvido para empoderamento feminino, a premiação garantiu potencializar aijda mais iniciativas na área.
![](https://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2024/03/sanitize_200324-084134-300x225.jpeg)
Para Firmiane, o trabalho realizado através da Unidade Móvel do Nudem vai garantir que as mulheres conheçam seus direitos, os serviços prestados pela DPE/BA e possibilitar que elas sejam capazes de romper o ciclo da violência. “Essa é uma conquista para a defesa das mulheres, para a Defensoria Pública, para todas as usuárias que acreditam nos nossos serviços e colegas que ao longo dos anos tem se dedicado na defesa dos direitos das mulheres”, celebrou a defensora geral.
Além de ser área finalística dos recursos recebidos pela Defensoria da Bahia, a Unidade Móvel do Nudem responde aos anseios da sociedade civil manifestados durante as conferências públicas do Orçamento Participativo de 2023. A proteção a mulheres em situação de violência foi uma prioridade indicada para o ano de 2024, segundo relatório que sistematiza as escutas feitas pela DPE/BA em todo o estado.
Presente na cerimônia de entrega, a coordenadora do Nudem, Lívia Almeida, destacou que o veículo vai possibilitar uma busca ativa das mulheres em situação de violência que não conseguem acessar os serviços. “A Defensoria não tem limitação de entrada em bairros e territórios. Valendo-se disso, poderemos fazer parcerias com outros órgãos públicos e chegar às mulheres com limitações de acesso às instituições com atendimentos e educação e direitos”, apontou.
![](https://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2024/03/sanitize_200324-084249-300x201.jpeg)
Também participaram da entrega, a subdefensora geral, Soraia Ramos; a coordenadora Executiva das Defensorias Especializadas, Donila Ribeiro; a coordenadora de Direitos Humanos, Eva Rodrigues; as defensoras públicas e a equipe de servidoras que atuam no Nudem.
O evento foi prestigiado ainda por importantes lideranças, como a promotora de Justiça, Sara Gama, representando o Ministério Público da Bahia; a delegada Bianca Torres, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher da Polícia Civil; a vereadora Laina Crisóstomo, entre outras representações parceiras.
E eu não sou uma mulher?
A entrega da Unidade Móvel do Nudem aconteceu durante a roda de conversa “E eu não sou uma mulher?”, que reuniu mulheres com diferentes marcadores sociais e trajetórias para discutir acessos e garantia de direitos. O evento foi o segundo do formato promovido pela DPE/BA na Casa da Mulher Brasileira e tem como objetivo promover a capacitação das equipes atuantes no equipamento.
“É fundamental termos uma discussão com uma composição tão diversa porque a luta das mulheres se intensifica conforme outras características se somam ao gênero”, comentou Lívia Almeida. Durante a manhã de debate, foram discutidas as perspectivas das experiências de mulheres negras, indígenas, trans, com deficiência, trabalhadoras do sexo, entre outras.
![](https://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2024/03/sanitize_200324-084458-300x225.jpeg)
Pesquisadora de Diversidade de Gênero, Yuna Vitória chamou atenção para como, na experiência de mulheres trans, o questionamento sobre a “mulheridade” faz parte da “trajetória de autoconhecimento e autodeterminação”. Ela também fez questão de reforçar a importância das batalhas travadas por outras mulheres trans, que possibilitaram o redirecionamento de foco da luta. “Até pouco tempo, nossa luta era focada no direito de não sair na rua durante o dia sem ser violentada”, lembrou.
Outra perspectiva importante e pouco explorada trazida para a discussão foi sobre as violências sofridas por trabalhadoras do sexo. O debate foi introduzido por Alessandra Gomes, coordenadora social da Força Feminina, uma instituição que atua em 30 áreas de prostituição em Salvador. Ela enfatizou que 90% das atendidas já sofreram violência sexual e, muitas vezes, engravidam e não acessam o aborto legal.
![](https://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2024/03/sanitize_200324-084542-300x225.jpeg)
Nesse sentido, a defensora Lívia Almeida chama atenção para a necessidade de avançar no entendimento de violência doméstica. “Ainda está muito enraizada na sociedade uma concepção de estupro que dialoga com a imagem do beco escuro, mas é preciso lembrar que a violência sexual também acontece com mulheres casadas, prostitutas, com demandas de saúde, entre outras”, afirmou.
Já a ouvidora adjunta Rutian Pataxó contribuiu com o debate a partir da perspectiva da mulher indígena que, segundo ela, é vítima de violência dentro e fora da comunidade. Ela também defendeu que elas sejam ouvidas nos espaços de construção de políticas públicas para que sejam respeitadas suas especificidades. “Ser mulher numa aldeia indígena é muito difícil porque a violência é mascarada pela cultura. Quando a gente tenta denunciar, a resposta é que não se pode intervir na cultura”, denunciou.
Também contribuíram com os debates da roda de conversa a coordenadora do Núcleo de Equidade Racial, Letícia de Almeida; a psicóloga Fernanda Carvalho; e a vereadora Laina Crisóstomo.