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Defensoria lança cartilha sobre abordagem policial com palestra sobre racismo estrutural

13/06/2019 07:06 | Por tao_adm
Defensoria lança cartilha sobre abordagem policial com palestra sobre racismo estrutural
Defensoria lança cartilha sobre abordagem policial com palestra sobre racismo estrutural

“O que você precisa saber sobre abordagem policial” é o título da cartilha lançada pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA nesta quinta-feira, 14, em evento que contou grande presença de policias militares em formação e representantes de movimentos negros.

De maneira direta e acessível, a cartilha aborda uma variedade de assuntos como: identificação policial, revista pessoal, uso de algemas, busca domiciliar, realização de exame de corpo delito, devolução de pertences, abuso de autoridade, audiência de custódia, denúncia à violência arbitrária, entre outros temas.

Prestigiando o momento, o defensor público geral da Bahia, Rafson Saraiva Ximenes, discorreu sobre a segurança como uma questão que tem vínculos com questões sociais e culturais e da necessidade do combate repressivo buscar sempre se ater aos pressupostos legais, não agindo de forma ilegal para supostamente promover justiça.

“Todo mundo deseja ter segurança, mas sem sofrer violência e abuso. Existem excessos e alguns agentes que deveriam assegurar a paz, por equívoco, por insegurança, terminam sendo eles próprios autores de agressão. A polícia deve fazer seu trabalho, porém este trabalho não pode gerar um dano ao cidadão. A cartilha é instrumento de educação em direitos, para que a população e os agentes saibam de suas garantias e deveres”, assinalou Rafson Ximenes.

JUVENTUDE NEGRA

Construída com muitas mãos, a cartilha contou com a contribuição de diversas instâncias da Defensoria e colaborações externas, sendo coordenada pela Especializada dos Direitos Humanos da Defensoria. Para a defensora pública e coordenadora da Especializada, Lívia Almeida, a publicação tem também como contexto o aumento dos casos de violência contra a juventude negra.

“O Atlas da Violência de 2019 demonstrou que a mortandade da juventude negra brasileira tem aumentado. Infelizmente é uma realidade nacional: a grande maioria das pessoas abordadas, vítimas de letalidade e encarceradas, por conta de um racismo estrutural, são negras. Com a cartilha a gente procura estimular uma nova relação entre agentes de segurança e cidadãos. A abordagem não pode se basear em estereótipos sociais”, sustentou Lívia Almeida.

O Coronel Valter Meneses, diretor de Comunicação Social da Polícia Militar da Bahia, esteve presente no evento – representando o comandante geral da Polícia Militar, Anselmo Brandão – e comentou a importância da iniciativa da Defensoria.

“A Defensoria presta um serviço importante com a publicação desta cartilha. Vamos promover na corporação um debate do valor que tem este trabalho. Nós temos hoje núcleos que impulsionam o policial a entender que ele deve tratar todos, brancos, negros, chineses, qualquer ser humano, de modo apropriado. Nossa Corregedoria funciona e tem se empenhado em combater as atitudes ilegais que os policias venham a cometer”, afirmou Valter Meneses.

O evento contou também com a participação dos coordenadores da Especializada Criminal e de Execução Penal, Fabíola Marguerita Pacheco e Maurício Saporito; com a diretora da Esdep, Soraia Ramos; e com o defensor público Bruno Moura.

RACISMO ESTRUTURAL

Sediado na Escola Superior da Defensoria, o lançamento da cartilha contou ainda com a palestra sobre “Racismo Estrutural”, ministrada pelo professor e advogado criminalista Vinicius de Assis Romão. Para Romão, a necessidade de se debater raça e racismo, numa perspectiva que ultrapasse o indivíduo, é fundamental para combater desigualdades estruturais que permeiam as lógicas das instituições.

“As instituições reproduzem o racismo que existe socialmente, independente de práticas conscientes ou não, isso gera desvantagens para determinados grupos populacionais e privilégios para outros. A construção dos estereótipos de quem são os suspeitos, os mecanismos no trato com estes, a destacada vulnerabilidade de ‘determinados corpos’ a sofrer violências e violações, tudo isto está marcado pela estrutura de desigualdade racial no Brasil. Neste contexto, ao debater a abordagem policial é preciso abordar o racismo estrutural como ferramenta de compreensão das práticas”, apontou Vinicius Romão.

Ainda para Vinicius Romão, a cartilha é necessária justamente porque existem grupos vulneráveis na sociedade que não acessam os seus direitos, já que se veem excluídos até mesmo do status de humanização. “É negado mesmo a estes grupos ou pessoas, um status que é até anterior ao de cidadania. Toda a questão destas desigualdades, no Brasil, está marcada pelo racismo”, acrescentou.

A cartilha pode ser conferida aqui.