Mulher indígena, mãe e avó, com raízes profundamente fincadas na ancestralidade do seu povo, militante dos direitos dos povos originários e alguém que busca conciliar tradição e inovação por meio da educação, da arte ou da representatividade política. É como é possível definir a nova ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado, Tamikuã Pataxó, cuja posse popular foi realizada em 5 de setembro, na Faculdade de Medicina da UFBA, em Salvador.
“Levanto com firmeza bandeiras da educação escolar indígena, da luta pela demarcação e preservação dos territórios tradicionais, de defesa das mulheres indígenas e da promoção da igualdade étnico-racial. Acredito que a justiça só é plena quando reconhece e respeita as diversidades que compõem o Brasil”, disse.
Hoje dedicada integralmente ao cargo de ouvidora-geral, Tamikuã tem uma trajetória de luta junto aos povos indígenas. Entre os exemplos, estão a posição de subsecretária do Fórum de Educação Inclusiva dos Povos Indígenas da Bahia, a fim de fortalecer políticas públicas específicas para o segmento, além de atuar na construção do Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB), na categoria indígena.
“Minha trajetória na educação escolar indígena, na arte plástica e na mora étnica reflete um compromisso de valorizar a identidade indígena em diferentes linguagens, mostrando que nossas culturas não estão restritas ao passado, mas se reinventam no presente e projetam o futuro”.
Além disso, no campo das artes, Tamikuã vem consolidando sua identidade como artista plástica e estilista de moda étnica, projetando a estética e a simbologia indígena para além dos limites das aldeias.
Thiffany Odara
Mulher trans, negra, integrante da comunidade LGBTQIAPN+ e do movimento do povo de santo – Thiffany Odara carrega consigo muitas bandeiras e reconhece as expectativas que ascendem com a sua presença no cargo de ouvidora adjunta da DPE/BA. “Eu enxergo que ocupar esse cargo é esperançar, é protagonizar vozes que sabemos que estruturalmente e historicamente são invisibilizadas e que são colocadas a uma margem de garantia de direitos”, avaliou.
Autora do livro “Pedagogia da Desobediência: travestilizando a educação”, Thiffany Odara é também mestra em Educação e Contemporaneidade e especialista em Gênero, Raça e Sexualidade na Formação de Educadores. “Eu sou uma educadora. Gosto muito de enfatizar que a variante não será determinante. Eu sou uma mulher trans, negra de Candomblé e Iyalorisa. E o que mais me marca é entender a educação como processo de transformação social. Uma educação que liberta”.
Em sua avaliação, a Ouvidoria Cidadã da DPE/BA encontra-se em um biênio representativo com a primeira ouvidora-geral indígena e com a sua presença enquanto ouvidora adjunta. “Temos uma mulher indígena, de luta, de resistência, de aquilombamento e que me convida para ocupar este espaço. Isto mostra o quanto o Brasil é um país indígena e negro, e o quanto essas lutas estão interligadas. Isso reverbera os nossos corpos dentro de um espaço de protagonismo e a justiça social passa a ser vista a partir da nossa chegada a esse estágio”, explicou.