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Defensoria coordena esforço de Rede Articulada para construção de respostas nos cuidados em Saúde Mental

10/02/2020 11:02 | Por tao_adm
Defensoria coordena esforço de Rede Articulada para construção de respostas nos cuidados em Saúde Mental
Defensoria coordena esforço de Rede Articulada para construção de respostas nos cuidados em Saúde Mental

Com debate sobre os caminhos da Reforma Psiquiátrica no Brasil, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA abriu as atividades do projeto “Articulando Redes Para o Cuidado em Liberdade”. O objetivo da iniciativa, liderada pela equipe de Saúde Mental da Defensoria, é alimentar o intercâmbio e a articulação entre os movimentos sociais, profissionais, usuários e gestores que atuam no Sistema Único de Saúde na Rede de Atenção Psicossocial.

No primeiro encontro, realizado na quarta-feira, 5, na Escola Superior da Defensoria, de uma série que será mensal, as considerações foram disparadas pela assistente social e professora da UCSAL Eliana Brito Nascimento. Ela realizou uma apresentação síntese de sua tese de doutorado: “A dimensão ético-política da reforma psiquiátrica”.

“A reforma é um projeto de política pública instaurado a partir de um movimento da sociedade civil desde a redemocratização da sociedade brasileira. Profissionais e usuários constituíram o movimento Antimanicomial que lutou pela transformação do tratamento das pessoas em sofrimento mental. O que vigorava era o modelo asilar [de recolhimento] que estabelecia uma relação da sociedade com a loucura de exclusão, de institucionalização por meio da internação em hospitais psiquiátricos, assumidos como aparato único para a questão. A reforma vai instaurar um processo de alteração deste modelo por uma rede que passa a construir outras formas de atenção”, discorreu Eliana Brito.

Em sua pesquisa, Eliana realizou uma análise de estudo comparativo da reforma nos municípios de Belo Horizonte e Salvador, enfatizando o papel dos profissionais que atuam na área e tomando como referencial teórico o conceito de “intelectual orgânico” do italiano Antônio Gramsci (1891-1937).

Ainda para Eliana Brito, embora a reforma psiquiátrica tenha alavancado muitos resultados positivos desde a redemocratização, a partir do ano de 2016 se passou a observar um regresso. Segundo ela, este retrocesso se manifesta por retaliações com retirada de financiamento das inciativas de transformação em favor da retomada do modelo manicomial. A apresentação de Eliana contou ainda com debate estimulado pelos professores Antônio Nery e Edna Amado.

“A explanação de Eliana deixa evidente como a atuação dos profissionais neste campo é também uma atuação política,  que visa efetivamente a reforma psiquiátrica Antimanicomial. É indispensável que os trabalhadores tenham essa implicação política, já que sua atuação é em si mesmo um fazer político”, comentou a defensora pública Fabiana Miranda, que atua no núcleo Pop Rua e na Equipe de Saúde Mental da DPE/BA. 

Novas soluções nos cuidados
Fabiana apontou ainda que o projeto “Articulando Redes” tem como principal meta associar e desenvolver entre os que integram a Rede um envolvimento por novas soluções nos cuidados com os assistidos que vivenciam o sofrimento mental.

Para Carla França, psicóloga e servidora do Ministério Público da Bahia, que esteve presente na abertura do projeto no auditório da Escola Superior da Defensoria, é importante que a inciativa ganhe de fato a adesão das diversas partes envolvidas.

“É importante que as instituições que integram essa rede, promovam e qualifiquem este debate, mas mais do que isso, que atuem, dentro de suas atribuições, no sentido de implementar serviços e ampliar a rede. Nisso, por exemplo, todo o sistema de justiça é fundamental. Tudo isto tem que impactar em mudanças que efetivamente garantam direitos e melhorem o acesso à rede”, assinalou.

Trabalhando na Fundação da Criança e Adolescente – órgão responsável pela gestão da política de atendimento ao adolescente em cumprimento das medidas socioeducativas de semiliberdade e internação na Bahia – o também psicólogo Jorge Araújo avalia que troca de informações e a construção conjunta do conhecimento são fundamentais na melhoria da rede e na aplicação da melhor terapêutica para cada indivíduo.

“Unir profissionais de diversas áreas, de diversos setores, e a partir do debate iniciado pela mesa, escutar os relatos de experiências e as considerações é importante. A participação dos profissionais, desta maneira, fortalece a rede e o conhecimento ‘psi’ e aprimora a tomada de decisão, já que a gente está no meio dos dispositivos decidindo o que fazer. Se organizar e pensar junto com os demais traz benefícios para todos, especialmente os usuários”, defendeu Jorge Araújo.

Articulando Redes
O propósito do projeto “Articulando Redes” é sensibilizar, capacitar e articular profissionais e gestores que trabalham no Campo da Saúde Mental para o trabalho em rede intersetorial e na perspectiva do Cuidado em Liberdade.

A cada mês profissionais e usuários dos serviços de Saúde Mental, em um dado distrito sanitário, organizarão um encontro. As atividades serão coordenadas pela equipe de Saúde Mental da Defensoria e devem discutir uma temática construída em torno de uma situação ou caso acompanhado de modo que as experiências sejam compartilhadas e que as dificuldades e possibilidades da intervenção abordadas. Os encontros ocorrerão sempre às primeiras quartas-feiras do mês.