COMUNICAÇÃO

“Existe um mito que família é o lugar perfeito de acolhida”, alerta psicóloga

22/10/2019 8:10 | Por Lucas Cunha - DRT/BA 2944

Palestra no CAJ I foi a última de outubro do projeto Sala de Espera da Defensoria e abordou a “Sensibilização e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente”.

A violência sexual contra crianças e adolescentes foi pauta da edição desta segunda, 21, do Sala de Espera, que ocorreu na Casa de Acesso à Justiça – CAJ I, no Jardim Baiano, em Salvador. O projeto da Defensoria visa trazer educação em direitos para assistidos que esperam por atendimento na unidade da Defensoria.

A palestrante da vez foi a psicóloga Potira Rocha, que trabalha no Projeto Viver (Serviço de Atenção a Pessoas em Situação de Violência Sexual) da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) do Governo do Estado. A entidade, que funciona em Salvador, oferece atendimento psicossocial para pessoas que sofreram qualquer tipo de violência sexual, independente da idade, gênero, orientação sexual e o tempo da agressão sofrida.

“Atendemos independente se a agressão ocorreu ontem ou há 10 anos. Se a pessoa sofrer qualquer efeito psíquico, nós atendemos. Recebemos muitas pessoas na fase adulta que tiveram algumas tentativas recorrentes de suicídio ou que sofrem depressão há muitos anos, em decorrência da violência que sofreram na infância”, afirmou Potira Rocha.

Agressores conhecidos

Em sua palestra para o público do CAJ I, a psicóloga do Projeto Viver abordou sobre alguns cuidados que pais e familiares devem ter com as atitudes de seus filhos e crianças da família, até mesmo porque, de acordo com Potira, estudos mostram que aproximadamente 75% dos agressores sexuais são pessoas já conhecidas, que estão dentro do ambiente familiar.

“Algumas famílias descobrem logo, outras levam anos para descobrir e há ainda outras que sabem e nunca vão denunciar. Existe um mito que a família é o lugar perfeito de acolhida, no qual só acontecem coisas boas, mas a gente sabe que não é assim”, alertou a psicóloga.

Ainda de acordo com o abordado pela psicóloga na atividade, os pais e responsáveis precisam acreditar mais nos sinais que as crianças e adolescentes enviam que algo de errado pode estar acontecendo.

“Esta situação de violência sexual gera muita vergonha, então as famílias têm receio de denunciar. Além disso, existe a tendência de não validar o discurso da criança. Assim, ela acaba sendo exposta a esta situação de violência por muitos anos, o que poderia – em muitos casos – ser evitado se a fala desta criança fosse levada em conta. Os conflitos familiares precisam ser encarados”, enfatizou Potira.

Entre o público da palestra do Sala de Espera está Tael Azevedo, que foi ao CAJ 1 para regularizar a situação das visitas à sua filha. Segundo ele, o que chamou sua atenção foi o fato da maioria destas violências serem cometidas por pessoas próximas à família.

“A gente não imagina que alguém próximo de nós pode ser justamente o causador dessa violência. Também foi importante saber mais a quem você pode procurar. Achei interessante ver isso em um ambiente público, fazendo com a informação chegue a mais pessoas. Sei que tem propagandas de TV e outdoors, mas da forma como foi colocado aqui, pessoalmente, de maneira simples e esclarecedora, é bem mais direto e funciona mais”, analisou Tael.

Cartilha

Ao final da palestra, a psicóloga Potira Rocha divulgou o telefone para mais informações do Projeto Viver (3117-6700), além de explicar que o atendimento é feito pessoalmente, no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, no Vale dos Barris, em Salvador, das 8 às 12h, e das 14 às 18h, de segunda a sexta-feira. Já Vanina Cruz, representante da Defensoria, distribuiu para os participantes a cartilha feita pela DPE/BA “Abuso Sexual Contra Crianças e Adolescentes – Não deixe acontecer na sua casa”.

O evento desta segunda foi o último de outubro do “Sala de Espera”, que teve como tema  “Mês de Sensibilização e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente”. Nas edições anteriores, foram abordados temas como “A exposição de crianças às novas tecnologias: vantagens e desvantagens”, além do tema “Criança Segura”.