COMUNICAÇÃO

Anjos da rua: conheça os desafios enfrentados pela equipe da Defensoria para trabalhar nas ruas

19/08/2021 16:39 | Por Ailton Sena; Produção: Ailton Sena e Tunísia Cores; Edição e revisão: Alexandre Lyrio e Arthur Franco
Equipe do Núcleo Pop Rua da Defensoria da Bahia

Trabalho itinerante do projeto Pop Rua em Movimento foi mantido durante o período de pandemia para garantir que as pessoas mais vulneráveis não deixassem de acessar os serviços da Defensoria Pública.

Medo do contágio, dificuldade de comunicação e a certeza de estar realizando um trabalho de fundamental importância para a vida das pessoas. Esses elementos aparecem nos relatos dos membros da equipe da Defensoria que, mesmo no momento em que o isolamento social e o teletrabalho eram imperativos para combater a pandemia do novo coronavírus, não abriram mão da missão de garantir o acesso aos serviços da instituição àqueles mais necessitados. 

Com o agravamento das vulnerabilidades e aumento do número de pessoas que buscavam as ruas como estratégia de sobrevivência, não teve jeito. Manter o contato presencial com esse público foi fundamental para intervir em prol de suas demandas. Por isso, a instituição teve que se adaptar para manter o trabalho itinerante do Pop Rua em Movimento em alguns pontos da cidade. 

Hoje, com a equipe toda vacinada ao menos com a primeira dose, os nossos ‘anjos das ruas’ trabalham mais tranquilos. Mas, ao longo dessa pandemia, nem sempre foi assim. Confira os depoimentos de nossos servidores e de uma de nossas defensoras que, desde julho do ano passado, não abriram mão de ir para a linha de frente durante a pandemia.

 

Eva Rodrigues, coordenadora da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos da DPE/BA, da qual o Núcleo Pop Rua está vinculado

“Mesmo ainda não estando vacinadas, em nenhum momento as pessoas que fazem parte do Pop Rua em Movimento hesitaram em estar nas ruas. Durante as atividades, eu pensava na música do Caetano que diz que ‘gente é pra brilhar, não pra morrer de fome’ e que eu precisava estar ali, junto com a equipe. Eu não posso dizer que não tive medo de me contaminar no início, mas uma vez na rua, o medo cede espaço. E logo você percebe o quão privilegiada você é e o quão importante é que as instituições se façam presentes para essas pessoas quando tudo mais desaparece”.

 

Sandra Carvalho, assistente social do Núcleo Pop Rua

“A princípio eu tive muito medo do contágio e muita dificuldade na comunicação por conta do uso da máscara e do face shield. Mas com o passar do tempo, foi ficando a certeza de que o trabalho que estava sendo realizado precisava ser feito, pois tinha uma importância muito grande para aquelas pessoas e elas valorizavam muito a nossa presença no campo. A satisfação e o êxito da atuação superaram o medo”. 

 

 

 

Zudiane Coelho, assistente social de formação, é técnica responsável pelo trabalho com catadoras e catadores de materiais recicláveis

“A gente tem dificuldade de limitar a aproximação, de fazer com que as pessoas compreendam o processo. Estamos há um ano e meio de pandemia e os serviços não estão dispensando mais máscaras, álcool gel, luva. A galera tá usando o que tem. Por isso, é muito difícil manter uma relação de proteção trabalhando na rua, principalmente, com oferta de cesta. A galera tá com fome mesmo, não tem o que comer e aí vê a oportunidade e precisa agarrar. Mas a gente faz isso por acreditar na luta. Eu tenho um posicionamento ético e político com essas pessoas”.

 

Caio Sério, estagiário de Gênero e Diversidade da DPE/BACaio Sérgio Silva Santos, graduado em Direito e estagiário de Gênero e Diversidade da DPE/BA

“Quando houve o segundo pico de casos de Covid-19, a gente preferiu segurar os atendimentos por questões de saúde. Mas enquanto podemos mantê-los presenciais, principalmente as itinerâncias, a gente tenta ao máximo manter o distanciamento social, pedir uso de máscaras, face shield, álcool em gel. A cabeça fica um pouco confusa, com medo da pandemia, mas sabemos que a efetividade do trabalho da Defensoria, e sobretudo do Núcleo Pop Rua, depende da itinerância. Então, a gente já vem sabendo que precisa aproveitar ao máximo essas oportunidades, que estão mais escassas durante a pandemia, mas que se não fizermos corre o risco de essas pessoas não terem acesso à Justiça”.

 

Lucas Sampaio, Analista de Direito da DPE/BA

Lucas Sampaio, analista de Direito da DPE/BA

Lucas Sampaio, analista de Direito

“No período de pandemia, começamos a fazer uma atuação mais remota, principalmente com as Unidades de Acolhimento Institucional, as emergências que surgiram a partir da pandemia e as unidades que já existiam antes. Mas, eventualmente, fomos para a rua fazer serviços e projetos específicos, mas precisamos segurar a onda até para não expor também as pessoas em situação de rua, pois nós também estávamos vulneráveis. A gente trabalha com a população de rua e precisa também falar em autocuidado. Eu fiquei preocupado em retornar à rua, mas estou um pouco mais tranquilo por ter tomado a primeira dose da vacina. No entanto, [é preciso considerar que] se a gente já está vulnerável nessa situação, a população em situação de rua está ainda mais. Acho que a Defensoria tem um papel fundamental de estar presente nesse momento justamente para que a população em situação de rua não fique desamparada neste momento. Vários serviços fecharam ou ficaram com horário reduzido, isso impediu que essa população pudesse acessar esses serviços. Então, a DPE/BA não poderia se furtar de estar presente nesse momento, atuando em linha de frente, fornecendo esse atendimento importante”.

A atuação da Defensoria com pessoas em situação de rua é realizada pelo Núcleo de Atendimento Multidisciplinar da População em Situação de Rua (Núcleo Pop Rua), que além de atender presencialmente no Canela, promove itinerâncias nas ruas, unidades de acolhimento, centros de referência especializados – Centros Pop – e unidades de saúde com oferta dos serviços disponíveis na unidade de atendimento.