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Jovens em cumprimento de medida socioeducativa são atendidos em mutirão da Defensoria da Bahia

02/10/2012 05:10 | Por tao_adm
Jovens em cumprimento de medida socioeducativa são atendidos em mutirão da Defensoria da Bahia
Jovens em cumprimento de medida socioeducativa são atendidos em mutirão da Defensoria da Bahia

Além de averiguar a situação processual dos educandos, a iniciativa vai colher informações sobre o cumprimento de direitos e garantias dos adolescentes nas Cases Salvador e Simões Filho

Desde abril deste ano, Marcos (nome fictício), 18 anos, cumpre medida socioeducativa por roubo. Ao ser questionado sobre seus planos para o futuro, ele diz com sorriso maroto e fala segura: "Para mim já basta dessa vida. Quero sair daqui e não voltar mais. Meu sonho é ser o maior malabarista de Salvador".

Marcos é um dos 77 educandos da Comunidade de Atendimento Socioeducativo (CASE-Cia), situada no município de Simões Filho, a ser atendido pelo mutirão de atendimento aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa realizado pela Especializada da Infância e Juventude da Defensoria Pública.

O objetivo da ação, que começou no início deste mês, é averiguar a situação processual de todos os educandos e verificar se há a possibilidade de progressão ou extinção da medida, visando à redução do quantitativo de internações – uma recomendação da política do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Nestes atendimentos, os defensores escutam os anseios dos educandos, conhecendo um pouco de suas histórias de vida, avaliando e orientando, caso a caso, sobre o devido cumprimento da medida aplicada.

Conforme a subcoordenadora da Especializada da Infância e Juventude da Defensoria, Hélia Barbosa, a atuação dos defensores públicos nestes espaços é fundamental. "Esses jovens têm esperanças de terem sua situação processual avaliada a partir do atendimento direto e da análise dos processos respectivos em curso na 2ª Vara da Infância e Juventude. Eles têm em nós a expectativa da liberdade", destacou.

VOLTAR PARA CASA MAIS CEDO

"Para a avaliação positiva de progressão ou extinção de medida é necessário um bom relatório social, o argumento da defesa que representa o educando e o entendimento favorável do promotor de Justiça que representa a sociedade", declarou a defensora pública da Especializada da Infância e Juventude, Maria Carmen de Albuquerque.

A internação pode durar de seis meses a três anos, e o bom relatório social prevê comportamento adequado, participação nas oficinas, regular frequência escolar e não envolvimento em conflitos dentro da unidade. De acordo com Maria Carmen de Albuquerque, a internação só funciona se houver a proposta sociopedagógica, caso contrário, será apenas o cumprimento de uma pena, como no sistema prisional.

"Não é só assegurar que todos os educandos tenham sua situação jurídica revisada, eles também sentem falta do diálogo, desta proximidade no momento do atendimento. Ouvimos sobre suas expectativas e sonhos, sobre o esporte que praticam, o que gostam de fazer, sobre suas famílias, suas aptidões", pontuou o defensor público, Maurício Moitinho.

Sílvio (nome fictício), 18 anos, é de Vitória da Conquista e cumpre medida socioeducativa por homicídio há um ano e meio. Ele diz que não sabe ao certo porque cometeu o ato infracional, alegou más companhias e drogas. Reclamou da comida da unidade e disse que queria ter direito a visita íntima. De poucas palavras e sorriso inquieto, o educando é rápido ao falar sobre seus planos para o futuro: "Já trabalhei de pedreiro, mas o que eu quero mesmo é ser pintor de carros. Quero um dia pintar meu próprio carro".

Sílvio faz parte do universo dos 236 internos da CASE Salvador. Situada na capital, é a maior unidade do Estado. O local, que tem previsão de ser implodido e reformado no final do ano, também contou com a presença da Defensoria Pública, que está realizando atendimentos individualizados com os internos provisórios e os sentenciados. Nesta unidade, o mutirão começou com uma visita da subcoordenadora da Infância e Juventude aos alojamentos, explicando aos educandos os objetivos da ação e verificando as condições destas instalações.

LIMITE DE INTERNAÇÃO

"Foram feitas anotações que serão avaliadas oportunamente, utilizadas para a busca dos processos e tomadas das medidas judiciais cabíveis, considerando que há alguns adolescentes com prazos ultrapassados do limite de internação prevista no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), ou seja, 45 dias", afirmou Hélia Barbosa. A defensora lembrou também que alguns dos adolescentes já possuem relatórios sociais favoráveis, além de Planos Individuais de Atendimento (PIAs), que poderão favorecer a progressão ou extinção das medidas socioeducativas.

As medidas nem sempre são compreendidas pelos educandos em um primeiro momento. "A abstinência, a falta do uso de drogas, entre outras coisas, provoca um comportamento reativo em alguns casos. Com um tempo, a própria institucionalização faz com que a assimilação do processo socioeducativo aconteça", destacou o defensor da Especializada da Infância e Juventude, Antônio Cavalcanti, que realiza atendimento periódico na unidade soteropolitana.

Para o Diretor da Case Salvador, Antônio Carlos Viana, muitas vezes o ato infracional cometido por alguns educandos não é motivo para o cumprimento de medida de internação: "Há meninos e meninas que não deveriam estar aqui, que poderiam, ao invés da internação, cumprir outras medidas socioeducativas. Temos um jovem internado há um ano por ter roubado um facão. Por isso, a presença da Defensoria Pública é de suma importância para a melhor interpretação e aplicação das medidas".

O mutirão, que é coordenado pela defensora pública e coordenadora das Especializadas da Defensoria Pública, Rita Orge, e pela subcoordenadora da especializada da Infância e Juventude, Hélia Barbosa conta com a participação dos defensores públicos Antônio Cavalcanti, Maria Carmen de Albuquerque, Tatiana Chagas e Maurício Moitinho. Segundo Hélia Barbosa, a 2ª fase do mutirão – que é a análise dos processos – vai contar com o apoio e a parceria da Justiça da Infância e da Juventude. Reuniões para discutir um plano de redução no número de internações já estão previstas.

Atualmente, a Defensoria Pública da Bahia responde pela quase totalidade dos processos referentes a medidas socioeducativas envolvendo jovens.