O estágio, para a maioria das pessoas, é uma forma do estudante pôr em prática os seus conhecimentos e as suas competências. No entanto, para algumas, ele significa também independência, empoderamento e fortalecimento de vínculos. É o caso dos jovens em situação de acolhimento institucional que participaram da seleção para estágio na Defensoria Pública do Estado da Bahia através do projeto Abraçando Vidas nesta segunda-feira, 27.
“É um projeto voltado aos adolescentes residentes em unidades de acolhimento ou abrigos e aos grupos vulneráveis atendidos pela Defensoria, como pessoas com deficiência, público LGBTQIA+, adolescentes vítimas de violência doméstica, entre outros”, explica defensora pública e coordenadora da Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, Gisele Aguiar.
Caio Ferreira*, por exemplo, tem 16 anos, está cursando o primeiro ano do ensino médio e conta que tem pensado diariamente na possibilidade de um estágio. “Eu sofri em casa, tive desavenças com minha mãe, já fui agredido e negligenciado várias vezes. Então, tive que recorrer ao Conselho Tutelar, e me encaminharam para a Fundação Cidade Mãe. Lá fiz amigos e hoje estou aqui fazendo essa prova, que pode me dar uma possibilidade, por que eu sempre pensei no que ia fazer depois que eu saísse de lá”, diz.
Para pleitear a vaga de estágio na DPE/BA os candidatos tiveram que responder 15 questões objetivas (matemática, português e conhecimentos gerais) , além de uma redação respondendo às questões “Quem sou eu no mundo?”, “Qual o papel da Defensoria na defesa dos vulneráveis” e “Como poderia auxiliar este órgão a cumprir este papel?”. Em seu texto, o estudante Henrique Santos* se apresentou como “um menino que estuda muito e quero ter esse prazer de fazer parte desta família: por que meu objetivo é ser desligado da instituição (de acolhimento) com um emprego, e poder ajudar aos outros e às minhas famílias futuramente”.
O Abraçando Vidas foi iniciado em 2019 e como os estágios possuem a duração de dois anos, uma nova turma de 18 estagiários está sendo selecionada. A iniciativa, que visa prover oportunidades aos jovens que compõem grupos vulneráveis, oferece 8 vagas para os que residem em abrigos e unidades de acolhimento, 5 para os que cumprem medidas socioeducativas em semiliberdade ou liberdade assistida decorrentes de prática de ato infracional e 5 para adolescentes em situação de vulnerabilidade. A prova para os dois últimos públicos será realizada nos próximos dias.
*Nomes fictícios para preservar a identidade