COMUNICAÇÃO

Lamarão – Moradora registrada pelo pai busca de exame de DNA para investigação de maternidade na Unidade Móvel

24/11/2022 13:30 | Por Tunísia Cores - DRT/BA 5496
Atendimentos aconteceram na rua do Caseb, em frente ao Centro Administrativo de Lamarão. | Foto: Tunísia Cores - Ascom DPE/BA

Atendimentos no caminhão da UMA trataram ainda de tarifa social de energia elétrica para comunidades quilombolas, além de demandas de saúde, fazenda pública, consumidor, família, entre outras

Suze Pinto Borges, 38 anos, foi uma das últimas pessoas a chegar na Unidade Móvel da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, que esteve estacionada na rua do Caseb, em frente ao Centro Administrativo de Lamarão, no final desta terça-feira, 22. Seu objetivo era resolver uma demanda pouco comum: a realização de um exame de DNA para a investigação de maternidade. A solicitação foi feita, pois, ao nascer, a assistida relata que foi registrada pelo pai, porém, no local da filiação materna, o nome da mãe biológica foi substituído pelo nome da irmã.

“Desde criança eu soube que o nome estava trocado em meu documento e minha mãe [biológica] sempre me dizia também. Quero ter o nome certo na minha certidão, porque além de ser o verdadeiro, isso [a troca] pode me prejudicar lá na frente. Eu já tinha tentado fazer a mudança junto a um advogado daqui, mas não consegui e fiquei desanimada”, explicou

Maria e Suze foram à Unidade Móvel realizar exame de DNA para investigação de maternidade | Foto: Tunísia Cores - Ascom DPE/BA

Maria e Suze foram à Unidade Móvel realizar exame de DNA para investigação de maternidade | Foto: Tunísia Cores – Ascom DPE/BA

Ao saber da presença da Unidade Móvel e confirmar que seria possível fazer o exame de DNA para investigação de maternidade, Suze não hesitou e foi buscar Maria Pereira da Silva, 60 anos, a quem chama de mãe biológica, para a coleta do material.

Por sua vez, Maria explica que o esposo faleceu há mais de 20 anos. Com ele, teve 16 filhos e as quatro últimas filhas, Suze inclusive, foram registradas com o nome de uma das irmãs. A idosa lamenta o fato de não poder ter trazido as demais filhas para fazer o exame de DNA para investigação de maternidade. Ao mesmo tempo, ficou muito feliz por já ter dado os passos iniciais para a primeira mudança.

“Para mim, vai mudar muita coisa, minha filha vai ter meu nome certinho na certidão de nascimento. Peço a Deus que eu consiga ver, em vida, minhas filhas com o nome certo no documento. Se eu pudesse, tinha falado com minhas outras filhas para vir também e ‘fazer’ essa mudança”, afirmou.   

“Solicitações de exame de DNA para investigação de maternidade são pouco comuns tanto na Unidade Móvel quanto no dia a dia da Defensoria da Bahia. Neste caso, apesar de já haver um nome no registro, foi necessário fazer o exame para comprovar a troca e, com o laudo, facilitar a propositura da ação de investigação de maternidade”, explicou a coordenadora da Unidade Móvel, Cristina Ulm.

A ida da Unidade Móvel da DPE/BA foi solicitada pela prefeitura de Lamarão e articulada junto à Secretaria de Assistência Social, a qual mobilizou a população da zona urbana e rural. No município, houve atendimentos na área de família – pensão alimentícia, divórcio, partilha de bens – com exames de DNA para reconhecimento de paternidade e investigação de maternidade; na área de consumidor, fazenda pública, entre outros. 

Tarifa social de energia elétrica para quilombolas

A líder quilombola, Jaciara Carvalho de Almeida, foi à UMA buscar o direito à tarifa social de energia elétrica para a comunidade quilombola Sítio Santana, além de outras demandas | Foto: Tunísia Cores – Ascom DPE/BA.

Distante em 9km da sede urbana de Lamarão, a comunidade quilombola Sítio Santana tem cerca de 143 famílias. Nesta terça-feira, 22, a líder quilombola Jaciara Carvalho de Almeida compareceu ao caminhão da UMA para pleitear junto à Defensoria da Bahia a tarifa social de água e energia elétrica. “Os recibos vêm muito altos, nós moramos em comunidades quilombolas e, por lei, temos direito a uma diminuição do valor cobrado nas contas”, relatou Jaciara.

Neste caso, foi necessário que a equipe da Defensoria encaminhasse um ofício para a Coelba informando sobre a Lei 12.212/2010, a qual dispõe sobre a Tarifa Social de Energia Elétrica e é regulamentada pelo Decreto 7583/2011.

 De acordo com a Lei 12.212/2010, “as famílias indígenas e quilombolas inscritas no CadÚnico –  com renda familiar mensal per capita menor ou igual a meio salário mínimo nacional ou com moradores que recebam o benefício de prestação continuada da assistência social – terão direito a desconto de 100%  até o limite de consumo de 50 kWh/mês, a ser custeado pela Conta de Desenvolvimento Energético – CDE”.

Saúde 

A líder quilombola veio acompanhada de sete pessoas, que tinham ainda demandas de saúde, retificação de registro civil, questões ligadas à água e saneamento básico, orientações jurídicas, consultas processuais, entre outras. Uma dessas pessoas era a sua irmã, Joseane Carvalho de Almeida, 35 anos, que após exames identificou uma disfunção no coração intitulada Cardiopatia Congênita Complexa, com Ventrículo Único. Com isso, seria necessário o encaminhamento para cuidar da questão no Hospital Ana Nery, em Salvador. 

“Para que seja dada a devida atenção a esse caso, foi encaminhado um ofício para a secretaria de saúde, sinalizando a importância do acompanhamento médico necessário e destacando a importância da regulação para atendimento especializado”, explicou a defensora pública Cristina Ulm.

Por sua vez, João* (nome fictício) esteve na Unidade Móvel, pois precisa realizar uma cirurgia de varicocele, mas não encontra vagas para fazer o procedimento. “Isso já tem quase um ano e ele sente muitas dores. É lavrador, mas não pode trabalhar na lavoura por causa da situação. Fica dependendo do pai e mãe porque não consegue trabalhar”, relatou uma das pessoas próximas ao assistido.

Durante o atendimento de João, a defensora pública Guiomar Fauaze explicou que, apesar de se tratar de um caso delicado, o assistido ainda não tinha número de inscrição na regulação.

“Ele já tinha relatório e encaminhamento médico, mas carecia do atendimento com o cirurgião para poder entrar na regulação. Então, nós encaminhamos ofício para a secretaria de saúde viabilizar a consulta e, consequentemente, a regulação do paciente, além de nos reunirmos com a gestão municipal para relatar a situação”, detalhou a defensora pública. 

Além de Joseane e João, houve diversas buscas por atendimentos que pudessem viabilizar o acesso à saúde para os lamarãoenses. Diante da alta demanda, a coordenação da Unidade Móvel solicitou uma reunião com a prefeitura, a secretaria de saúde e a secretaria de assistência social do município.

Reunião Interinstitucional

Saúde, assistência social, meio ambiente, questões jurídicas e de educação foram pauta da reunião interinstitucional realizada entre a DPE/BA e a gestão municipal durante a passagem da UMA por Lamarão, na região do Sisal, nesta terça-feira, 22. “Nós convocamos a reunião para mostrarmos os pontos que precisavam de atenção da gestão municipal, como as questões de saúde, de acompanhamento do Centro de Referência em Assistência Social, e também fizemos atuações estratégicas para a Defensoria com a UMA”.

Entre as atuações citadas pela defensora estão a apresentação da Ação Cidadã Infância sem Racismo, com um ofício de autorização da distribuição da Nossa Querida Bia na rede de educação; a apresentação e disposição do Nudem em auxiliar em questões ambientais e implementação da coleta seletiva; além de ressaltar a necessidade de melhorar o atendimento de saúde. “Sabemos como é difícil gerir o orçamento e direcionar as verbas para essa questão, porém nós recebemos muitas queixas da população, então é preciso que a gestão dê uma atenção especial a isso”, complementou Cristina Ulm.

“A chegada da Defensoria Pública em Lamarão traz muitos benefícios que comungam com aquilo que a gente pensa, que é cuidar de gente, que é zelar pela nossa população e pelos serviços prestados, que eu tenho certeza que vão transformar vidas. O feedback que nós recebemos sobre as reclamações na área de saúde, além das questões pontuadas sobre educação, na assistência social foram importantes para solucionarmos o que foi trazido pela população” afirmou a prefeita de Lamarão, Maria Luzineide Costa Silva de Araújo, conhecida como pró Ninha.

Também participaram da reunião a defensora Guiomar Fauaze; o secretário de assistência social de Lamarão, Gilmário Pereira, e sua equipe técnica representada por Rose Miranda; além da secretária de educação municipal. Durante a estadia da UMA, a gestão municipal destacou que a Defensoria finalizou os atendimentos com um legado para população e que irá solicitar o caminhão da UMA futuramente para novas demandas.