COMUNICAÇÃO

ITABUNA – Debate sobre violência de gênero institucional inicia projeto de diálogos entre membros da Defensoria

31/03/2021 18:27 | Por Júlio Reis - DRT/BA 3352
Regional da Defensoria em Itabuna

Projeto reunirá equipe, toda última sexta-feira de cada mês, permitindo debate sobre temas relevantes que concernem às atividades e missões da Defensoria

Amadurecer na equipe e no ambiente de trabalho a consciência sobre temas relevantes que dizem respeito aos direitos humanos, à defesa dos grupos vulneráveis e à luta por justiça social livre de discriminações e preconceitos – este é o objetivo do projeto “Diálogos Virtuais” desenvolvido pela a 4ª Regional da Defensoria Pública da Bahia com sede em Itabuna.

O intuito do projeto é que a equipe de defensores, servidores e estagiários da Regional se reúna toda última sexta-feira do mês para dialogar e trocar experiências e impressões sobre algumas das questões que concernem às atividades e missões da Defensoria. Tudo isso na perspectiva de como estes assuntos podem ser encarados recorrendo a pensar o que ocorre nos espaços e nas atividades da própria Instituição.

“Por conta da situação de isolamento social, como medida sanitária para controle da transmissão da covid-19, os encontros serão, por ora, realizados virtualmente. Foi um modo também que encontramos de reforçar os vínculos de equipe neste contexto, já que muitos estavam pontuando a ausência destas trocas em nossa sede que sempre foi marcada por um clima de muito diálogo e integração”, comentou a defensora pública e coordenadora da 4a Regional, Luanna Lyra Ramalho.

Violência de gênero

No primeiro encontro do “Diálogos Virtuais, realizado nesta sexta-feira, 26, o debate foi centrado sobre como a violência de gênero pode se manifestar na cultura institucional. No seu recente relatório “A situação dos direitos humanos no Brasil”, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos das Organizações dos Estados Americanos, que reúne 36 nações do continente americano,  apontou que o reconhecimento da violência contra a mulher como problema público, e não como dado das relações privadas, levou décadas para ocorrer no Brasil.

Ainda de acordo com a Comissão, é preciso que o país adote medidas que promovam o ideal de igualdade de gênero de modo que a dignidade e a autonomia das mulheres passem a ser mais amplamente reconhecidas pela população. A Comissão destacou também que as mulheres defensoras dos direitos humanos enfrentam estereótipos de gênero que dificultam sua participação na vida pública e sua liderança na defesa de seus direitos fundamentais, seus territórios e suas tradições.

A estagiária Janine Ribeiro, a servidora Neila Goes e a defensora pública Luanna Ramalho apresentaram e mediaram as discussões que contaram com diversos relatos de experiências da equipe. A defensora pública Luanna Ramalho pontuou que manifestações sutis do machismo e invisibilizações cotidianas das mulheres também sustentam a cultura patriarcal e precisam ser reconhecidas em sua faceta de violência de gênero. A defensora sugeriu a adoção de ferramentas práticas para promover o diálogo constante no ambiente institucional.

Já a estagiária Janine Ribeiro apontou que o desenvolvimento pessoal passa pelos estágios de percepção, reflexão e, por fim, mudanças de comportamentos e atitudes. “É muito importante para a construção de um Defensoria ainda mais humana e solidária o debate de temas como a violência de gênero, observando, inclusive, pequenas atitudes violentas que qualquer um de nós pode manifestar”, disse.

Retomando termos “bropriating” [situação onde um homem se apropria da ideia de uma mulher], “manterrupting” [interrupção desnecessária de uma mulher por um homem] e “gaslighting” [forma de abuso psicológico que passa pela distorção informacional para gerar insegurança nas mulheres], Janine recordou o valor e necessidade de campanhas informativas sobre como evitar agressões verbais contra mulheres como a que foi promovida no mês de março pela Especializada de Direitos Humanos e pela Assessoria de Comunicação da DPE/BA.

Compartilhando sua experiência de mulher lésbica, a servidora Neila Goes, também salientou que até mesmo dentro de uma instituição como a Defensoria podem ocorrer manifestações de preconceitos de gênero. “O desenvolvimento de ações afirmativas e o diálogo aberto entre todo o corpo que constitui a instituição é fundamental para a desconstrução de mentalidades reprodutoras de qualquer tipo de violência. Por isso a importância de projetos como esse, mesmo que adaptados à realidade da pandemia”, disse.

Ainda na oportunidade do projeto, a defensora pública e coordenadora da Especializada de Direitos Humanos, Lívia Almeida, reiterou a importância de participação da equipe na II Etapa do Censo da Defensoria Pública da Bahia. Nesta segunda etapa, o Censo busca dados para compreender e refletir como operam as relações de gênero no âmbito da Instituição.