COMUNICAÇÃO

Cine Debate retoma atividades e propõe discussão sobre democracia com filme “Marighella”

19/07/2022 10:47 | Por Ailton Sena DRT 5417/BA

Promovido pela Especializada de Direitos Humanos, o evento integrou a programação do curso de formação dos(as) novos(as) defensores(as).

Baiano nascido em Salvador, Carlos Marighella foi considerado o “inimigo número um do Brasil” por levantar-se contra a ditadura militar. Em sua trajetória política, atuou em lutas sindicais, foi preso, torturado e morto pelo regime militar em 1969. Somente em 2012, após apurações da Comissão da Verdade, recebeu anistia póstuma. Mas em 1996, o Estado já havia reconhecido a autoria da sua morte.

Foi com o filme que reconta parte da história desse político, escritor e revolucionário, que o Cine Debate promovido pela Defensoria Pública da Bahia – DPE/BA retomou as atividades na última sexta-feira, 15, na Sala Walter da Silveira, após dois anos suspenso por conta do novo coronavírus. Dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge, Marighella foi aclamado de pé na edição de 2019 do Festival de Berlim e elogiado pela crítica internacional. E não foi diferente a recepção do público do Cine Debate.  

“A experiência foi extremamente rica! Em tempos tão sombrios de negação de direitos e retrocessos, assistir a um filme como o Marighella nos recorda que vale a pena ser resistência. Entrar numa sala de cinema com dezenas de pessoas assistindo a esse filme nos dá a força necessária para sermos valentes na luta”, avaliou a assistente social Miria Tiago, 34, que assistiu ao filme pela primeira vez no evento promovido pela DPE/BA. 

Com mediação de Sirlene Assis, Maria Marighella e Luana Assis participaram como debatedoras.

Além dela, outras dezenas de pessoas entre estagiários(as), servidores(as) e defensores(as) públicos(as) da capital e do interior lotaram a sala de cinema. O evento promovido pela Especializada de Direitos Humanos integrou a programação do curso de formação dos(as) defensores(as) públicos(as) recém-empossados(as).

Coordenadora da Especializada de DH, Eva Rodrigues explica que a escolha do filme para retomada do projeto de reflexão e educação em direitos se deu, justamente, por conta do contexto de retrocessos e riscos à democracia vivenciados no país. “Com isso, a instituição segue disputando narrativas para que a gente consiga vislumbrar possibilidades de continuar fazendo diferente e reafirmar nosso papel na promoção dos direitos humanos”, explicou. 

Após exibição do filme, com a mediação da ouvidora-geral Sirlene Assis, coube à vereadora e neta de Carlos Marighella, Maria Marighella, juntamente com a jornalista e apresentadora Luana Assiz incitar reflexões sobre a obra e as questões por ela levantadas. “Nós vivemos uma democracia burguesa e ainda assim ela está em risco”, advertiu Sirlene.

Para Maria Marighella, a obra audiovisual é uma peça da cultura que reflete o tempo político em que o país está inserido desde 2013. “Por isso, fazer esse filme foi muito difícil desde a captação de recursos”, relatou. Ela lembrou ainda da importância da absolvição do avô no Júri Simulado promovido pela DPE/BA no ano de 2019.

“Marghella  foi assassinado pelo estado brasileiro  sem que tivesse passado por um julgamento. A Defensoria fez o julgamento simbólico para que a sociedade entendesse o valor de um julgamento justo, de um júri”, relembrou a vereadora.

 Dezenas de pessoas prestigiaram a retomada do Cine Debate.

A jornalista Luana Assiz destacou a importância de Carlos Marighella na luta pela democracia que se mantém até os dias atuais e enfatizou o papel da comunicação nesse processo. “A disputa de narrativas, sobretudo no campo institucional, é algo que me preocupa muito. O jornalismo feito com seriedade e comprometimento ético tem sido fundamental para esse momento de muita violência e ódio que estamos vivendo”, assinalou.

A próxima edição do Cine Debate acontece no dia 26 de agosto com a exibição do documentário Sem Descanso. O filme conta a jornada de Jurandy Silva de Santana para elucidar a morte do seu filho Mascarenhas de Santana, que em 2014, foi preso pela polícia militar e nunca mais foi visto.