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Criminalização dos territórios baianos foi tema do projeto Lugar de Fala, na CASE Feminina

18/12/2019 10:12 | Por tao_adm
Criminalização dos territórios baianos foi tema do projeto Lugar de Fala, na CASE Feminina
Criminalização dos territórios baianos foi tema do projeto Lugar de Fala, na CASE Feminina

J.S. não sabia ler ou escrever quando passou a cumprir internato na Comunidade de Atendimento Socioeducativo – Case feminina, localizada no bairro Tancredo Neves, em Salvador. Hoje, três anos depois, estuda simultaneamente a 6ª e a 7ª série, se orgulha dos aprendizados colecionados em pouco menos de três anos e já sonha com o futuro.

“Quero fazer um curso de fotografia e montar um projeto voltado para pessoas negras. Também sonho ser psicóloga. Quero estudar muito para trabalhar com Psicologia porque gosto de conversar com as pessoas”, planeja.

A jovem é uma das participantes do projeto Lugar de Fala, criado pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA para promover a cidadania e a educação em direitos entre jovens e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no estado.

Para J.S., a iniciativa contribui para formação pessoal. “Participo do projeto desde o início e gosto muito do Lugar de Fala porque a gente aprende a se expressar, aprende várias outras coisas também”.

Nesta terça-feira, 17, o projeto discutiu a criminologia dos territórios baianos, a relação estabelecida com a distribuição sociocultural e, acima de tudo, étnica e racial na Bahia, especialmente em Salvador.

Território e construção de identidade

Guiado pelo professor de Direito Penal, Vinícius de Assis Romão, o momento incluiu debates sobre origens territoriais das internas e construção de identidade; experiências de vida e locais de pertencimento.

“O objetivo foi trabalhar sobre o lugar que elas ocupam na cidade para, a partir daí, traçar discussões sobre as desigualdades – não só em relação à operacionalização do poder punitivo, mas com a perspectiva de que a punição é apenas uma faceta de um cenário de estruturas opressoras de raça, gênero e classe social”, explicou Romão.

Para promover a reflexão, foram usados mapas de Salvador e da Bahia para que as socioeducandas pudessem marcar os locais por onde passaram. Este foi um meio de refletir sobre o perfil das respectivas regiões e quais características todas carregam em comum.

“Como o projeto Lugar de Fala traz na essência o debate sobre reconhecimento e pertencimento, tem tudo a ver discutir a categoria do território, que é historicamente uma matriz das lutas por liberdade e igualdade no Brasil. E a gente vê isso em diversas perspectivas”, comenta.

Para o docente, “a partir desse contexto, de pensar a criminalização de territórios, é possível refletir sobre o quanto a sensação de pertencimento a um lugar contribui para uma reflexão mais ampla sobre resistências em um viés antirracista e antimachista”.

Outros caminhos

Criado pela Especializada da Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da DPE/BA, o projeto Lugar de Fala propõe debates incentivados por especialistas convidados da Defensoria que abordam temas ligados à infância e à juventude. À frente da iniciativa, o defensor público Bruno Moura comenta algumas das contribuições esperadas.

“Investir na formação de cada um é o que vai fazer vocês trilharem outros caminhos. Eu sempre quis que este fosse um espaço realmente livre para vocês estarem e para falarem também”, disse na ocasião o defensor, que conversou individualmente com as internas antes do início do projeto.

A troca de experiências também está entre os objetivos. “Todas as pessoas que aqui vieram tinham o propósito de estimular o debate, mas também de ouvir vocês para que pudessem levar algo também”, completou Bruno Moura.